Irmã
Giovanna Porru e o jardim de Infância de São Francisco, Humaitá-AM
Muitos
sentiram, alguns até choraram a saída de Irmã Giovanna do seio de nossa
comunidade, mas quem perdeu mesmo foram as famílias pobres do bairro de São
Francisco, principalmente as que têm muitos filhos.
Quem
não conheceu Irmã Giovanna? Pequenina em estatura, porém grande em realizações,
no trabalho, na doação e no amor pelos pobres, e enfim por todos que lhe
rodearam. A pé, ou montada na sua bicicletinha Monareta ou no seu Fiat, ela
estava sempre trabalhando pelos que precisavam de sua ajuda, fazendo isso
sempre muito alegre, sorridente e feliz.
É
lamentável e irreparável a perda de uma pessoa como Irmã Giovanna. Sei que
ninguém é insubstituível, mas ser como ela é, fazer o que ela faz, conseguir o
quer ela consegue, doar-se como ela se doa, não é um dom de qualquer pessoa.
Ela
foi uma dádiva de Deus. Ele nos trouxe, Ele agora a levou para outra
comunidade, quem sabe, mais carente do que a nossa. Ela é sem dúvida uma
obreira do Reino de Deus!
O
seu grande trabalho realizado na comunidade de São Francisco, aqui em Humaitá,
já foi suficiente para imortalizá-la entre nós. Que Deus a recompense!
CONGREGAÇÃO MARCELINA
Em
1837 o Pe. Luís Beraghi, um santo sacerdote dedicado as obras de Deus, rezava
no santuário da Virgem das Dores, em Cernusco Sul Noviglio – Itália, quando
sentiu um impulso decisivo para fundar uma obra que dê glória a Deus e salve de
modo particular as almas jovens. Assim, em 1838 ele fundou a congregação que
consagrou a Santa Marcelina, escolhendo para ser sua colaboradora e Superiora
da Congregação a irmã MARINA VIDEMARI.
Santa
Marcelina foi uma virgem romana do século IV, que uniu sua beleza natural, à
modéstia, à simplicidade, ao espírito de oração, de penitência de caridade.
Tendo recebido do papa Libério o Véu das virgens a Deus. Ao perder a sua mãe,
ela dedicou-se com ardor à educação dos seus irmãos Ambrósio e Sátiro, que mais
tarde tornaram-se grandes santos da Igreja Católica. Marcelina estendeu ainda
seus santos ensinamentos a outras jovens de seu tempo. Morreu com 70 anos de
idade em 17 de julho de 400, sendo considerada a santa formadora de santos.
Irmã
Marina, no pouco que pude conhecer sua vida, em tudo procurou imitar a Santa
Marcelina, e Irmã Giovanna parece seguir os seus exemplos.
AS MARCELINAS A CAMINHO
DE HUMAITÁ
Em
1971 numa conferência pronunciada no Rio de Janeiro, o pregador Pe. Vasconcelos
dizia não ser perdoável, aos religiosos, não se preocuparem com a condição
moral do povo amazonense. Daí surgiu nas Superioras da Congregação Marcelina o
desejo e a inspiração de acorrer ao encontro desse chamado.
Um
dia Dom Miguel D’Aversa, Bispo de Humaitá, manifestou em São Paulo o desejo de
ter imãs em sua diocese. Sabedoras disso, as Superioras Marcelinas, após
consultarem a Madre Geral, começaram a estudar a possibilidade de se
estabelecerem em Humaitá.
Para
os primeiros contatos, no dia 7 de março do ano de 1973, as irmãs Fernanda e
Josefina fizeram a primeira viagem ao Amazonas. Vieram de avião a Porto Velho,
de onde desceram o Rio Madeira de barco até Humaitá e depois foram a Manicoré.
No
dia 20 de julho de 1973, a Madre Geral da Congregação, Irmã Eliza Zanchi,
acompanhada das irmãs Maria Pires e Josefina, veio visitar Humaitá.
No
dia 26 de outubro de 1973, Dom Miguel foi à Casa Provincial das Marcelinas em
São Paulo para acertar detalhes sobre a vinda das irmãs para esta cidade.
Uma
vez tudo certo, as Marcelinas começaram a preparar os alicerces do novo campo
do trabalho.
No
dia 29 de outubro de 1973 as irmãs Fernanda e Josefina definem o contrato coma
secretaria de saúde em Manaus, tomam posição a respeito do trabalho que as
irmãs iriam executar no Hospital de Humaitá.
No
dia 31 de outubro de 1973 em São Paulo a irmã Fernanda dirige-se por cartas às
escolhidas para virem a Humaitá e as convida a aceitar o desafio. Eram elas:
Metilde, Alice, Maria Rosa, Dolores e Bernadete. Conforme consta no diário das
irmãs em Humaitá, aquele momento foi emocionante, tanto pela saudade de
deixarem o convívio em São Paulo como pela alegria do chamado missionário para
trabalharem no Amazonas, numa região longínqua, onde certamente muitas almas as
esperavam. Daí por diante, as orações frequentes a Jesus Hóstia as encorajavam
e davam mais disposição à nova missão.
Finalmente,
no dia 20 de novembro de 1973, às sete horas, as dispostas missionárias tomaram
o avião no Aeroporto de Congonhas com destino a Porto Velho, de lá, o ônibus no
qual vieram a Humaitá.
Chegaram
às dezoito horas e foram recebidas com muita alegria. No dia 23 de novembro de
1973 elas iniciaram oficialmente o seu trabalho no hospital.
As
irmãs missionárias vieram acompanhadas de suas superioras: Fernanda, Josefina e
Rosela. Ficaram hospedadas no próprio hospital até que no dia 12 de dezembro de
1973 se estabeleceram numa pequena dependência do hospital que lhes serviu de
casa e que elas assim descrevem em seu diário: “... parece uma casinha de fada:
uma cozinha com fogão a gás, uma salinha para refeição com jogo e fórmica e uma
providencial geladeira, lenitivo para a nossa sede no calor. Uma salinha
modestamente decorada para reuniões familiares”.
As
superioras voltaram a São Paulo e as missionárias aqui ficaram com muita
coragem e amor, se integrando logo a nossa Comunidade.
IRMÃ GIOVANNA, A
OPERÁRIA DO SENHOR
IRMÃ
Maria Giovanna Porru, religiosa da Congregação de Santa Marcelina, é natural de
Sardenha – Itália. Chegou a Humaitá no dia 25 de janeiro de 1976, recém-chegada
de Milão para ser missionária no Amazonas. Ao chegar a Humaitá não sabia falar
a língua portuguesa, o que não a impediu de começar de imediato o trabalho
missionário.
Dela
se diz ter o dom de ser desapegada de tudo. Não tem ambição a seu favor, tudo
quanto consegue em bens materiais dá aos pobres necessitados, e o que conseguiu
aqui das mãos caridosas, aplicou a favor do Jardim de Infância São Francisco e
de seu povo.
O
seu grande trabalho em ajudar as pessoas não se limitou apenas aos que
pertenciam a sua comunidade, estendeu-se também as pessoas de outras
Comunidades; ela muitas famílias a construírem o barraco, outros a fazerem
sérios tratamentos de saúde em outras cidades, principalmente em Itaquera-SP,
onde a congregação tem um grande hospital, doou perna a aleijado, fez sepultar
descentemente defunto cuja família não tinha condições para tal coisa, arranjou
empregos a desempregados, enfim, ajudou a muitos indistintamente.
Como
funcionária da Secretaria de Saúde do Estado foi visitadora sanitária, nesse
trabalho ela percorreu constantemente todas as ruas da cidade e todos os
lugares do interior do município, nas estradas, nas beiras de rios, nos lagos,
nos igarapés, no beiradão do Rio Madeira, e assim, todos sentiram a sua
presença e desfrutaram do seu espírito caridoso e amigo.
Deixou
Humaitá no dia 22 de fevereiro de 1987. Na Igreja der São Francisco foi
celebrada a Santa Missa de despedida, onde cantos de louvor a Deus e lágrimas
de emoções, ela despediu-se de todos os seus amigos e colaboradores, indo
trabalhar no Hospital São Paulo em Muriaé-MG.
Foi
naturalizada brasileira depois de quinze dias que deixou a cidade de Humaitá.
A MESSE EM BRENHA, A RUA
BONIFÁCIO
Rua
Bonifácio, assim era chamada a rua recém surgida em Humaitá no inicio da década
de setenta, local que Deus destinará ao grande trabalho da reverenda Irmã
Giovanna.
Lá,
se agrupavam de modo desorganizado as famílias pobres que chegavam dos
beiradões dos nossos rios e de outras regiões do país. Coincide assim o êxodo
rural interno com início das migrações para essa terra. A rua era um simples
caminho tortuoso e cerrado onde aos seus lados surgiam inúmeras casinhas de
paus roliços e palhas de palmeiras, em terrenos que eram distribuídos por um
antigo morador de nome Bonifácio, que media o pedaço de chão e autorizava a
construção, de onde veio o nome da Rua Bonifácio, hoje Rua São Francisco em
honra ao santo pobre que escolheram para patrono.
E naquele
emaranhado de casas, construídas assim sem nenhum planejamento técnico, sem
higiene, sem água e luz, sem assistência médica e escola, só a pobreza a
prostituição e o vicio proliferavam a cada dia.
Logo
na entrada da rua estava localizada uma casa de prostituição, suja e sem
higiene, cheia apenas de depravações e malícias, onde as crianças se misturavam
aos adultos e partilhavam dos mesmos costumes ou se preparavam para a mesma
vida, e onde as pessoas de famílias dignas e honradas, portadoras de bons
costumes, viam cenas indesejáveis.
Porém,
naqueles corações sofridos nem tudo era maldade, ainda brilhava neles a fé
cristã que é característica de nossos caboclos, e eles unidos construíram no local
uma pequenina capela onde se reuniam para louvar a Deus, dedicando a capela a
São Francisco. A capela era pequena e humilde, construída de madeira e palha
como as casinhas que a rodeavam.
Assim
era o campo que Irmã Giovanna iria cultivar. Cultivar amor, cultivar a
libertação daquela gente.
A TERRA DESTINADA, O
SINAL DE DEUS
As
irmãs Marcelinas enquanto trabalhavam no hospital, aproveitavam as folgas para
irem às capelas pregar a evangelização e conhecerem melhor os problemas físicos
e espirituais das pessoas com que passaram a conviver. E a capela de São
Francisco da Rua Bonifácio era o local aonde elas iam com mais frequência.
A
vontade de Deus se manifestou da seguinte maneira: ela e outra religiosa se
dirigiam à capela numa tarde de domingo quando ao passarem em frente a casa de
prostituição, onde homens e mulheres embriagados faziam algazarras, elas
encontraram algumas meninas pequeninas rolavam no chão, como se estivessem
embriagadas, dando risadas e conversando alto Irmã Giovanna se aproximou delas
e lhes perguntou:
-
O que vocês estão fazendo?
Uma
delas lhe respondeu:
-
Estamos brincando de mulherzinha!
Irmã
Giovanna ficou horrorizada com aquela resposta e disse a sua companheira:
-
O que será dessas crianças se ninguém se preocupar em tirá-las desse ambiente
sujo e lhes ensinar alguma coisa boa, principalmente a palavra de Deus!
Chamando
aquela pequenina para bem junto de si, acariciou-a e lhe disse:
-
Não faça mais isso, nem você nem suas coleguinhas, eu vou dar a vocês uma
escola onde vocês vão aprender a brincar de coisas boas. Vocês também vão ter
uma pessoa que vai se preocupar com vocês.
Aquela
cena e aquelas palavras pronunciadas por aquela criança ficaram impressas na
bondosa alma da Irmã Giovanna, que não duvidou tratar-se de um chamado de Deus
e uma ordem para que ela se dedicasse àquelas almas, e assim, satisfazer também
o sonho que trouxe de sua terra natal: de trabalhar num lugar pobre e com
pessoas pobres e humildes.
Aquilo
se tornou para ela uma idéia fixa, e de imediato começou a agir.
A FOME, A META
PRIORITÁRIA
Tão
logo iniciou o seu trabalho naquela comunidade, Irmã Giovanna já conhecia todos
os problemas cruciantes daquela gente que Deus lhe tinha confiado. Cada
problema era maior do que o outro e exigia soluções urgentes. A fome, esta,
porém, devia ser atacada de imediato, não era possível prorrogar por mais dias
o sofrimento daquelas crianças, muitas das quais passavam o dia inteiro sem
comer nada. Entretiam o estômago com tucumã com farinha ou açaí e dessa forma
expostas as mais variadas doenças.
Ela
sabia que para cuidar daquelas almas era necessário e se fazia urgente cuidar
primeiro daqueles corpos famélicos e desnutridos, do contrário seria inútil a
sua evangelização.
E
a própria comunidade que parecia precisar de tudo, no entanto tinha muito a
dar. As pessoas que dispunham de melhor condição passaram a contribuir com
alguma coisa e as outras pessoas saíam a pedir dos corações generosos o que
pudessem dar e o que servisse de alimento. Algumas senhoras se prontificaram a
ajudar na cozinha, e logo as crianças passaram a receber um gostoso e farto
prato de sopa que lhes aliviava a fome, enquanto Irmã Giovanna providenciava
algo melhor.
À
sopa não correram somente as crianças, mas também algumas pessoas idosas que
sofriam do mesmo mal, e todos saíam aliviados.
O CLUBE DAS MÃES
As
mães são a guia e mestre dos filhos e o equilíbrio da família. Irmã Giovanna
sabedora de disso tratou logo de reunir as mães daquelas crianças pobres que
ela já estava ajudando, queria conhecer bem a cada uma delas, para com isso
facilitar o seu trabalho, e quem sabe, até encontrar entre elas algumas que lhe
pudesse ajudar.
Com
a ajuda de Dona Mariazinha Monteiro, uma senhora portadora de muitos
conhecimentos práticos e já acostumada a administrar o Clube das Mães do centro
da cidade, elas passaram a ensinar aquelas mães um pouco de bordado, crochê,
arte culinária noções de higiene e principalmente as práticas de piedade cristã.
E
no meio daquelas senhoras, algumas embora analfabetas, mas dispostas a serem
úteis, Irmã Giovanna encontrou braços dispostos a lhe ajudarem, cada uma na
medida de sua responsabilidade, e assim juntas edificarem o reino de Deus
naquele bairro, como realmente aconteceu. A presença e o bom exemplo de Irmã
Giovanna contagiavam a todos na luta pelo mesmo ideal.
O
JARDIM DE INFÂNCIA
O TODO NO CONTEXTO DE
GRANDE REALIZAÇÃO
1ª PARTE- A CONSTRUÇÃO
Irmã
Giovanna havia prometido às crianças dar-lhes uma escola. A capelinha onde
reunia a todos já não era suficiente. A quantidade de crianças crescia a cada
dia. Era necessário não apenas alimentar fisicamente, mas educá-las e
instruí-las moral e espiritualmente para a vida.
Sem
recursos financeiros para fazer o que imaginava, mas cheia de boa vontade, fé
em Deus e confiança nas pessoas, ela começou a agir. Logo ela encontrou apoio
de todo aquele povo, que apesar de muito pobre de bens materiais era rico de
espírito de colaboração. Homens, mulheres, crianças e principalmente os jovens,
todos procuravam ajudar naquilo que lhes fosse possível, em regime de mutirão,
passaram a trabalhar na construção do prédio, cavando alicerces, carregando
material, ofertando pequenos valores em dinheiro, ou certa quantidade de
material como tijolos, cimento etc.
Tudo
acontecia como um verdadeiro milagre, talvez o motivo fosse sua presença
encorajadora e sorridente.
Entre
os seus grandes colaboradores merecem destaque os nomes de Lúcia Guimarães,
Maria Helena Ferreira da Silva, de uma jovem de nome Matilde e de um cidadão
conhecido como Cabo Lúcio.
Estas
pessoas lideravam movimento de promoções visando angariar recursos, fazendo
festinhas, bingos, rifas, leilões e pedindo ajuda no comércio, nas repartições
públicas e nas casas de famílias de outras ruas. Logo o DNER, o 54º BIS, a
Prefeitura Municipal e o comércio local passaram a ajudar também. No DNER ela
encontrou na pessoa do engenheiro chefe Dr. José Airton Cardoso e do
mestre-de-obras e o desenhista técnico Álvaro Pereira, dois grandes
colaboradores e dois grandes amigos, que não só ajudaram com materiais e transporte,
como também com seus serviços técnicos profissionais, de que muito ela precisou
no decorrer dos tempos.
Dom
Miguel D’Aversa fora o seu benemérito colaborador. Ele mais que todos procurou
ajudar-lhe e incentivar o seu grande trabalho. Foi ele que com o recurso da
Prelazia comprou o terreno ao lado da capela de São Francisco para a construção
do Jardim de Infância e posteriores onde se expandiu a grande obra.
No
dia 23 de outubro de 1977 foi posta no chão a pedra fundamental do Jardim de
Infância.
No
dia 30 de outubro de 1977 iniciaram-se as escavações dos alicerces feitas pelos
próprios moradores do local, no sistema de mutirão.
Feitos
os alicerces a construção parou, os recursos disponíveis esgotaram-se coma a
compra de materiais, mas Irmã Giovanna naquelas alturas já buscava em locais
longínquos.
No
dia 26 de dezembro de 1977 com recursos vindos de um colégio de formação em
Montreal-Canadá, sete trabalhadores contratados, unidos aos colaboradores
locais, começaram a levantar as paredes.
Uma
vez levantadas as paredes, a construção não parou mais, quando parecia faltar
alguma coisa a Divina Providência logo providenciava.
No
dia 3 de março de 1978 p prédio foi concluído e dispunha de três salas de
aulas, uma sala de janta, uma cozinha, um depósito de material e quatro
sanitários, ocupando ma área construída de 15 metros quadrados.
No
dia 1 de abril de 1978, iniciam-se as aulas com 120 crianças matriculadas que
recebiam instruções e alimentação integral.
O novo estabelecimento tinha os seguintes
objetivos:
1.
Dá a Humaitá um jardim de infância que fosse aberto às
necessidades dos mais pobres.
2.
Educar e assistir crianças de 3 a 5 anos, cujas mães
trabalhavam, quase todas como empregadas domésticas fora do lar.
3.
Oferecer às crianças alimentação mais adequada para um
crescimento normal.
4.
Preparar alunos que saibam aproveitar melhor o
primeiro ano de estudo.
2ª PARTE – O PRIMEIRO
ANO DE FUNCIONAMENTO
Agora
o funcionamento do Jardim de Infância não podia mais parar, uma grande
quantidade de pessoas pobres do local dependia de qualquer forma desse
estabelecimento. O número de criança crescia sempre mais, os idosos que lá iam
aliviar a sua fome eram muitos, com isso aumentavam também as despesas. Para
sustentar tudo aquilo Irmã Giovanna e seus auxiliares aumentaram suas
atividades em busca de recursos. Ela passou a viajar com frequência para Porto
Velho, Manaus, São Paulo e até para Itália. Sem dinheiro muitas vezes viajou de
carona em automóveis, ônibus e até caminhões, como aconteceu algumas vezes nos
caminhões dos correios, mesmo com pessoas desconhecidas. Afinal quem trabalha
pela causa de Deus não tem nada a temer.
No
início das aulas o jardim tinha uma diretora, três professoras, uma zeladora e
uma merendeira. Três mães diariamente ofereciam ajuda na limpeza e na
assistência às crianças. Um pai oferecia seus serviços nos afazeres diversos. A
promessa de Irmã Giovanna se tornara realidade, agora não existiam mais motivos
para dúvidas, se é que existiram, e logo os órgãos públicos e prontificaram a
ajudar.
A Campanha
Nacional de Alimentação Escolar passou a fornecer a merenda escolar para a s
crianças matriculadas, a Secretaria de Educação e Cultura do Estado aceitou
contratar as três professoras, a Prefeitura Municipal se propôs a pagar uma
merendeira, uma zeladora, a água e a luz, o Lions Clube de Humaitá ofertara de
uma única vez C$25.000,00.
No
dia 10 de agosto de 1978 o Jardim de Infância São Francisco assinou com a
fundação Legião Brasileira de Assistência (LBA) o primeiro convênio de
cooperação técnica e financeira no valor de C$ 85.000,00 a ser aplicado C$
59.500,00 em materiais de consumo e C$ 25.500,00 em materiais permanentes.
Neste
ano Irmã Giovanna comprou com a ajuda da Prelazia outra área ao lado do jardim,
medindo 25x60 metros, destinada a aumentar suas instalações dentro de um
projeto elaborado no valor de C$ 240.000,00.
3ª PARTE – O JARDIM DE
INFÂNCIA NOS ANOS SEGINTES
A
cada ano Irmã Giovanna foi ampliando mais a sua obra, a fim de proporcionar
melhor condição de atendimento às pessoas do Bairro de São Francisco.
Nos
anos de 1980 e 1984 o jardim passou a matricular alunos até a quarta série do
curso primário, que precisavam estudar e não faziam isso devido à falta de
escolas no bairro. Já em 1985 voltou novamente a matricular as crianças na
faixa de 3 a 5 anos, conforme sempre foi seu objetivo.
Num
terreno ao lado da capela foi construído um casarão onde passou a funcionar uma
escola de marcenaria, ensinando aos meninos a arte de marceneiro, o que
possibilitou a muitos deles um certo ganho financeiro.
Foram
construídos ainda uma quadra de esportes e um parque de diversões infantis.
Em
1980 o jardim funcionava com 325 alunos matriculados, chegando em 1986 a ter
1500.
Em
1986 o prédio foi ampliado, chegando ao custo da ampliação em C$ 800.000,00 dos
quais C$ 100.000,00 foram conseguidos junto à SUFRAMA, e o restante, Irmã
Giovanna conseguiu de outras fontes.
Ao
lado de Irmã Giovanna todos esses anos estiveram como diretoras do jardim as
senhoras: Lúcia Guimarães, Maria Helena Ferreira da Silva e Francisca da Silva
Guimarães. Todas estas professoras lutaram com bravura ao lado da irmã Giovanna
em prol do Jardim de Infância São Francisco, e todas elas são testemunhas do
grande trabalho e do grande sacrifício enfrentado por Irmã Giovanna para
edificar e manter o empreendimento que vem beneficiando a muitas pessoas.
A NOVA IGREJA DE SÃO
FRANCISCO
Desde
o início da obra no bairro de São Francisco, Irmã Giovanna se preocupou em
construir uma igreja grande e confortável, onde seus amiguinhos pudessem rezar
bem agasalhados e onde Jesus Sacramentado fosse venerado dignamente.
Obedecendo
a sua orientação, o desenhista Álvaro Pereira fez a planta. A nova igreja fora
planejada levando em consideração o clima quente da região, por isso o novo
templo é bem ventilado e acolhedor, tendo na frente uma linda praça.
O
no templo tem em cada tijolo, guardado e escondido, assim como escondido está
no coração de Irmã Giovanna, a marca de tantos sacrifícios com amor e por amor.
Pronta,
a nova igreja foi consagrada solenemente no dia 4 de outubro de 1982. No dia 8
de março de 1987 foi entregue aos cuidados dos Freis Capuchinhos que são os
atuais encarregados da paróquia de São Francisco criada no dia 25 de março de
1987.
O POSTO DE SAÚDE
A
preocupação de irmã Giovanna pelo seu povo era tantos quanta a sua preocupação
pela educação, nutrição e desenvolvimento espiritual de suas crianças, e neste
particular ela se empenhara desde quando começou duas atividades junto àquela
comunidade. Nesta parte ela sempre teve a ajuda dos estudantes universitários
do Projeto Rondon, como também do Dr. Marcondes, médico da FSESP, mas para isso
era necessário um lugar adequado e ela não tinha meios financeiros para
construir.
Com
a morte de sua mãe na Itália, os seus irmãos decidiram transferir para ela a
herança que lhes coube.
Com
esse dinheiro ela pôde realizar o que há muito tempo idealizava. Reconstruiu e
equipou o prédio que antes fora uma escola de marcenaria, transformando-a num
posto de saúde. Lá funcionava o atendimento médico e odontológico sob a direção
da reverenda Irmã Maria Bernardes.
1987- O ADEUS E AS
DIFICULDADES
Quem
trabalha por amor de Deus não pode se apegar demasiadamente a determinadas
pessoas, lugar e coisas. Foi isso certamente, foi isso certamente que fez ir
embora a nossa bondosa Irmã Giovanna. Ela, provavelmente já tinha por esta
terra e por este povo um grande amor.
O
seu sonhado jardim de infância já florira o suficiente para encher de saudável
fragrância o nosso ambiente. A sua missão aqui estava cumprida, bastando apenas
que alguém continue a levar adiante. E ela foi embora.... Foi dá continuidade
ao seu sonho, sonho de toda a sua vida, trabalhar em lugares pobres com pessoas
pobres e humildes. Aos seus aqui, ela já conseguiu pelo menos em parte, a sua
libertação, outros mais necessitados esperavam por ela.
Tão
logo partira, disse-me Irmã Maria Bernardes e Dona Francisca que era diretora
do jardim. As coisas mudaram bastante, as dificuldades se alastraram de
imediato. Os não apareceram mais, nem mesmo para terminar os serviços
contratados e que Irmã Giovanna já deixara pago. Faltou alimentação, diversos
materiais, faltou dinheiro para pagar as despesas e até o mais importante, a
união entre as pessoas que trabalhavam no jardim e nas suas diversas
dependências. Dona Francisca lamentava muito a falta de Irmã Giovanna. Irmã
Maria Bernardes dizia que não era hora de Irmã Giovanna ter ido embora, ela
devia ter deixado amadurecer mais o seu empreendimento.
Acrescentado
disse ainda Dona Francisca: muitos pais reconhecem as nossas dificuldades e já
se dispuseram a contribuir com uma taxa mensal para ajudar nas despesas, não
sei se os outros vão aceitar isso. Eles estavam acostumados a receber tudo das
mãos caridosas de Irmã Giovanna...
Algumas Imagens...
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