quarta-feira, 19 de agosto de 2015

História de nossa Comunidade

Irmã Giovanna Porru e o jardim de Infância de São Francisco, Humaitá-AM

Muitos sentiram, alguns até choraram a saída de Irmã Giovanna do seio de nossa comunidade, mas quem perdeu mesmo foram as famílias pobres do bairro de São Francisco, principalmente as que têm muitos filhos.
Quem não conheceu Irmã Giovanna? Pequenina em estatura, porém grande em realizações, no trabalho, na doação e no amor pelos pobres, e enfim por todos que lhe rodearam. A pé, ou montada na sua bicicletinha Monareta ou no seu Fiat, ela estava sempre trabalhando pelos que precisavam de sua ajuda, fazendo isso sempre muito alegre, sorridente e feliz.
É lamentável e irreparável a perda de uma pessoa como Irmã Giovanna. Sei que ninguém é insubstituível, mas ser como ela é, fazer o que ela faz, conseguir o quer ela consegue, doar-se como ela se doa, não é um dom de qualquer pessoa.
Ela foi uma dádiva de Deus. Ele nos trouxe, Ele agora a levou para outra comunidade, quem sabe, mais carente do que a nossa. Ela é sem dúvida uma obreira do Reino de Deus!
O seu grande trabalho realizado na comunidade de São Francisco, aqui em Humaitá, já foi suficiente para imortalizá-la entre nós. Que Deus a recompense!

CONGREGAÇÃO MARCELINA

Em 1837 o Pe. Luís Beraghi, um santo sacerdote dedicado as obras de Deus, rezava no santuário da Virgem das Dores, em Cernusco Sul Noviglio – Itália, quando sentiu um impulso decisivo para fundar uma obra que dê glória a Deus e salve de modo particular as almas jovens. Assim, em 1838 ele fundou a congregação que consagrou a Santa Marcelina, escolhendo para ser sua colaboradora e Superiora da Congregação a irmã MARINA VIDEMARI.
Santa Marcelina foi uma virgem romana do século IV, que uniu sua beleza natural, à modéstia, à simplicidade, ao espírito de oração, de penitência de caridade. Tendo recebido do papa Libério o Véu das virgens a Deus. Ao perder a sua mãe, ela dedicou-se com ardor à educação dos seus irmãos Ambrósio e Sátiro, que mais tarde tornaram-se grandes santos da Igreja Católica. Marcelina estendeu ainda seus santos ensinamentos a outras jovens de seu tempo. Morreu com 70 anos de idade em 17 de julho de 400, sendo considerada a santa formadora de santos.

Irmã Marina, no pouco que pude conhecer sua vida, em tudo procurou imitar a Santa Marcelina, e Irmã Giovanna parece seguir os seus exemplos.

AS MARCELINAS A CAMINHO DE HUMAITÁ

Em 1971 numa conferência pronunciada no Rio de Janeiro, o pregador Pe. Vasconcelos dizia não ser perdoável, aos religiosos, não se preocuparem com a condição moral do povo amazonense. Daí surgiu nas Superioras da Congregação Marcelina o desejo e a inspiração de acorrer ao encontro desse chamado.
Um dia Dom Miguel D’Aversa, Bispo de Humaitá, manifestou em São Paulo o desejo de ter imãs em sua diocese. Sabedoras disso, as Superioras Marcelinas, após consultarem a Madre Geral, começaram a estudar a possibilidade de se estabelecerem em Humaitá.

Para os primeiros contatos, no dia 7 de março do ano de 1973, as irmãs Fernanda e Josefina fizeram a primeira viagem ao Amazonas. Vieram de avião a Porto Velho, de onde desceram o Rio Madeira de barco até Humaitá e depois foram a Manicoré.
No dia 20 de julho de 1973, a Madre Geral da Congregação, Irmã Eliza Zanchi, acompanhada das irmãs Maria Pires e Josefina, veio visitar Humaitá.
No dia 26 de outubro de 1973, Dom Miguel foi à Casa Provincial das Marcelinas em São Paulo para acertar detalhes sobre a vinda das irmãs para esta cidade.
Uma vez tudo certo, as Marcelinas começaram a preparar os alicerces do novo campo do trabalho.
No dia 29 de outubro de 1973 as irmãs Fernanda e Josefina definem o contrato coma secretaria de saúde em Manaus, tomam posição a respeito do trabalho que as irmãs iriam executar no Hospital de Humaitá.
No dia 31 de outubro de 1973 em São Paulo a irmã Fernanda dirige-se por cartas às escolhidas para virem a Humaitá e as convida a aceitar o desafio. Eram elas: Metilde, Alice, Maria Rosa, Dolores e Bernadete. Conforme consta no diário das irmãs em Humaitá, aquele momento foi emocionante, tanto pela saudade de deixarem o convívio em São Paulo como pela alegria do chamado missionário para trabalharem no Amazonas, numa região longínqua, onde certamente muitas almas as esperavam. Daí por diante, as orações frequentes a Jesus Hóstia as encorajavam e davam mais disposição à nova missão.
Finalmente, no dia 20 de novembro de 1973, às sete horas, as dispostas missionárias tomaram o avião no Aeroporto de Congonhas com destino a Porto Velho, de lá, o ônibus no qual vieram a Humaitá.
Chegaram às dezoito horas e foram recebidas com muita alegria. No dia 23 de novembro de 1973 elas iniciaram oficialmente o seu trabalho no hospital.
As irmãs missionárias vieram acompanhadas de suas superioras: Fernanda, Josefina e Rosela. Ficaram hospedadas no próprio hospital até que no dia 12 de dezembro de 1973 se estabeleceram numa pequena dependência do hospital que lhes serviu de casa e que elas assim descrevem em seu diário: “... parece uma casinha de fada: uma cozinha com fogão a gás, uma salinha para refeição com jogo e fórmica e uma providencial geladeira, lenitivo para a nossa sede no calor. Uma salinha modestamente decorada para reuniões familiares”.
As superioras voltaram a São Paulo e as missionárias aqui ficaram com muita coragem e amor, se integrando logo a nossa Comunidade.

IRMÃ GIOVANNA, A OPERÁRIA DO SENHOR

IRMÃ Maria Giovanna Porru, religiosa da Congregação de Santa Marcelina, é natural de Sardenha – Itália. Chegou a Humaitá no dia 25 de janeiro de 1976, recém-chegada de Milão para ser missionária no Amazonas. Ao chegar a Humaitá não sabia falar a língua portuguesa, o que não a impediu de começar de imediato o trabalho missionário.
Dela se diz ter o dom de ser desapegada de tudo. Não tem ambição a seu favor, tudo quanto consegue em bens materiais dá aos pobres necessitados, e o que conseguiu aqui das mãos caridosas, aplicou a favor do Jardim de Infância São Francisco e de seu povo.
O seu grande trabalho em ajudar as pessoas não se limitou apenas aos que pertenciam a sua comunidade, estendeu-se também as pessoas de outras Comunidades; ela muitas famílias a construírem o barraco, outros a fazerem sérios tratamentos de saúde em outras cidades, principalmente em Itaquera-SP, onde a congregação tem um grande hospital, doou perna a aleijado, fez sepultar descentemente defunto cuja família não tinha condições para tal coisa, arranjou empregos a desempregados, enfim, ajudou a muitos indistintamente.
Como funcionária da Secretaria de Saúde do Estado foi visitadora sanitária, nesse trabalho ela percorreu constantemente todas as ruas da cidade e todos os lugares do interior do município, nas estradas, nas beiras de rios, nos lagos, nos igarapés, no beiradão do Rio Madeira, e assim, todos sentiram a sua presença e desfrutaram do seu espírito caridoso e amigo.
Deixou Humaitá no dia 22 de fevereiro de 1987. Na Igreja der São Francisco foi celebrada a Santa Missa de despedida, onde cantos de louvor a Deus e lágrimas de emoções, ela despediu-se de todos os seus amigos e colaboradores, indo trabalhar no Hospital São Paulo em Muriaé-MG.
Foi naturalizada brasileira depois de quinze dias que deixou a cidade de Humaitá.

A MESSE EM BRENHA, A RUA BONIFÁCIO

Rua Bonifácio, assim era chamada a rua recém surgida em Humaitá no inicio da década de setenta, local que Deus destinará ao grande trabalho da reverenda Irmã Giovanna.
Lá, se agrupavam de modo desorganizado as famílias pobres que chegavam dos beiradões dos nossos rios e de outras regiões do país. Coincide assim o êxodo rural interno com início das migrações para essa terra. A rua era um simples caminho tortuoso e cerrado onde aos seus lados surgiam inúmeras casinhas de paus roliços e palhas de palmeiras, em terrenos que eram distribuídos por um antigo morador de nome Bonifácio, que media o pedaço de chão e autorizava a construção, de onde veio o nome da Rua Bonifácio, hoje Rua São Francisco em honra ao santo pobre que escolheram para patrono.
E naquele emaranhado de casas, construídas assim sem nenhum planejamento técnico, sem higiene, sem água e luz, sem assistência médica e escola, só a pobreza a prostituição e o vicio proliferavam a cada dia.
Logo na entrada da rua estava localizada uma casa de prostituição, suja e sem higiene, cheia apenas de depravações e malícias, onde as crianças se misturavam aos adultos e partilhavam dos mesmos costumes ou se preparavam para a mesma vida, e onde as pessoas de famílias dignas e honradas, portadoras de bons costumes, viam cenas indesejáveis.
Porém, naqueles corações sofridos nem tudo era maldade, ainda brilhava neles a fé cristã que é característica de nossos caboclos, e eles unidos construíram no local uma pequenina capela onde se reuniam para louvar a Deus, dedicando a capela a São Francisco. A capela era pequena e humilde, construída de madeira e palha como as casinhas que a rodeavam.
Assim era o campo que Irmã Giovanna iria cultivar. Cultivar amor, cultivar a libertação daquela gente.

A TERRA DESTINADA, O SINAL DE DEUS

As irmãs Marcelinas enquanto trabalhavam no hospital, aproveitavam as folgas para irem às capelas pregar a evangelização e conhecerem melhor os problemas físicos e espirituais das pessoas com que passaram a conviver. E a capela de São Francisco da Rua Bonifácio era o local aonde elas iam com mais frequência.
A vontade de Deus se manifestou da seguinte maneira: ela e outra religiosa se dirigiam à capela numa tarde de domingo quando ao passarem em frente a casa de prostituição, onde homens e mulheres embriagados faziam algazarras, elas encontraram algumas meninas pequeninas rolavam no chão, como se estivessem embriagadas, dando risadas e conversando alto Irmã Giovanna se aproximou delas e lhes perguntou:
- O que vocês estão fazendo?
Uma delas lhe respondeu:
- Estamos brincando de mulherzinha!
Irmã Giovanna ficou horrorizada com aquela resposta e disse a sua companheira:
- O que será dessas crianças se ninguém se preocupar em tirá-las desse ambiente sujo e lhes ensinar alguma coisa boa, principalmente a palavra de Deus!
Chamando aquela pequenina para bem junto de si, acariciou-a e lhe disse:
- Não faça mais isso, nem você nem suas coleguinhas, eu vou dar a vocês uma escola onde vocês vão aprender a brincar de coisas boas. Vocês também vão ter uma pessoa que vai se preocupar com vocês.
Aquela cena e aquelas palavras pronunciadas por aquela criança ficaram impressas na bondosa alma da Irmã Giovanna, que não duvidou tratar-se de um chamado de Deus e uma ordem para que ela se dedicasse àquelas almas, e assim, satisfazer também o sonho que trouxe de sua terra natal: de trabalhar num lugar pobre e com pessoas pobres e humildes.
Aquilo se tornou para ela uma idéia fixa, e de imediato começou a agir.

A FOME, A META PRIORITÁRIA

Tão logo iniciou o seu trabalho naquela comunidade, Irmã Giovanna já conhecia todos os problemas cruciantes daquela gente que Deus lhe tinha confiado. Cada problema era maior do que o outro e exigia soluções urgentes. A fome, esta, porém, devia ser atacada de imediato, não era possível prorrogar por mais dias o sofrimento daquelas crianças, muitas das quais passavam o dia inteiro sem comer nada. Entretiam o estômago com tucumã com farinha ou açaí e dessa forma expostas as mais variadas doenças.
Ela sabia que para cuidar daquelas almas era necessário e se fazia urgente cuidar primeiro daqueles corpos famélicos e desnutridos, do contrário seria inútil a sua evangelização.
E a própria comunidade que parecia precisar de tudo, no entanto tinha muito a dar. As pessoas que dispunham de melhor condição passaram a contribuir com alguma coisa e as outras pessoas saíam a pedir dos corações generosos o que pudessem dar e o que servisse de alimento. Algumas senhoras se prontificaram a ajudar na cozinha, e logo as crianças passaram a receber um gostoso e farto prato de sopa que lhes aliviava a fome, enquanto Irmã Giovanna providenciava algo melhor.
À sopa não correram somente as crianças, mas também algumas pessoas idosas que sofriam do mesmo mal, e todos saíam aliviados.

O CLUBE DAS MÃES

As mães são a guia e mestre dos filhos e o equilíbrio da família. Irmã Giovanna sabedora de disso tratou logo de reunir as mães daquelas crianças pobres que ela já estava ajudando, queria conhecer bem a cada uma delas, para com isso facilitar o seu trabalho, e quem sabe, até encontrar entre elas algumas que lhe pudesse ajudar.
Com a ajuda de Dona Mariazinha Monteiro, uma senhora portadora de muitos conhecimentos práticos e já acostumada a administrar o Clube das Mães do centro da cidade, elas passaram a ensinar aquelas mães um pouco de bordado, crochê, arte culinária noções de higiene e principalmente as práticas de piedade cristã.

E no meio daquelas senhoras, algumas embora analfabetas, mas dispostas a serem úteis, Irmã Giovanna encontrou braços dispostos a lhe ajudarem, cada uma na medida de sua responsabilidade, e assim juntas edificarem o reino de Deus naquele bairro, como realmente aconteceu. A presença e o bom exemplo de Irmã Giovanna contagiavam a todos na luta pelo mesmo ideal.

O JARDIM DE INFÂNCIA
O TODO NO CONTEXTO DE GRANDE REALIZAÇÃO

1ª PARTE- A CONSTRUÇÃO

Irmã Giovanna havia prometido às crianças dar-lhes uma escola. A capelinha onde reunia a todos já não era suficiente. A quantidade de crianças crescia a cada dia. Era necessário não apenas alimentar fisicamente, mas educá-las e instruí-las moral e espiritualmente para a vida.
Sem recursos financeiros para fazer o que imaginava, mas cheia de boa vontade, fé em Deus e confiança nas pessoas, ela começou a agir. Logo ela encontrou apoio de todo aquele povo, que apesar de muito pobre de bens materiais era rico de espírito de colaboração. Homens, mulheres, crianças e principalmente os jovens, todos procuravam ajudar naquilo que lhes fosse possível, em regime de mutirão, passaram a trabalhar na construção do prédio, cavando alicerces, carregando material, ofertando pequenos valores em dinheiro, ou certa quantidade de material como tijolos, cimento etc.
Tudo acontecia como um verdadeiro milagre, talvez o motivo fosse sua presença encorajadora e sorridente.
Entre os seus grandes colaboradores merecem destaque os nomes de Lúcia Guimarães, Maria Helena Ferreira da Silva, de uma jovem de nome Matilde e de um cidadão conhecido como Cabo Lúcio.
Estas pessoas lideravam movimento de promoções visando angariar recursos, fazendo festinhas, bingos, rifas, leilões e pedindo ajuda no comércio, nas repartições públicas e nas casas de famílias de outras ruas. Logo o DNER, o 54º BIS, a Prefeitura Municipal e o comércio local passaram a ajudar também. No DNER ela encontrou na pessoa do engenheiro chefe Dr. José Airton Cardoso e do mestre-de-obras e o desenhista técnico Álvaro Pereira, dois grandes colaboradores e dois grandes amigos, que não só ajudaram com materiais e transporte, como também com seus serviços técnicos profissionais, de que muito ela precisou no decorrer dos tempos.
Dom Miguel D’Aversa fora o seu benemérito colaborador. Ele mais que todos procurou ajudar-lhe e incentivar o seu grande trabalho. Foi ele que com o recurso da Prelazia comprou o terreno ao lado da capela de São Francisco para a construção do Jardim de Infância e posteriores onde se expandiu a grande obra.
No dia 23 de outubro de 1977 foi posta no chão a pedra fundamental do Jardim de Infância.
No dia 30 de outubro de 1977 iniciaram-se as escavações dos alicerces feitas pelos próprios moradores do local, no sistema de mutirão.
Feitos os alicerces a construção parou, os recursos disponíveis esgotaram-se coma a compra de materiais, mas Irmã Giovanna naquelas alturas já buscava em locais longínquos.
No dia 26 de dezembro de 1977 com recursos vindos de um colégio de formação em Montreal-Canadá, sete trabalhadores contratados, unidos aos colaboradores locais, começaram a levantar as paredes.
Uma vez levantadas as paredes, a construção não parou mais, quando parecia faltar alguma coisa a Divina Providência logo providenciava.
No dia 3 de março de 1978 p prédio foi concluído e dispunha de três salas de aulas, uma sala de janta, uma cozinha, um depósito de material e quatro sanitários, ocupando ma área construída de 15 metros quadrados.
No dia 1 de abril de 1978, iniciam-se as aulas com 120 crianças matriculadas que recebiam instruções e alimentação integral.
 O novo estabelecimento tinha os seguintes objetivos:

1.        Dá a Humaitá um jardim de infância que fosse aberto às necessidades dos mais pobres.
2.        Educar e assistir crianças de 3 a 5 anos, cujas mães trabalhavam, quase todas como empregadas domésticas fora do lar.
3.        Oferecer às crianças alimentação mais adequada para um crescimento normal.
4.        Preparar alunos que saibam aproveitar melhor o primeiro ano de estudo.

2ª PARTE – O PRIMEIRO ANO DE FUNCIONAMENTO

Agora o funcionamento do Jardim de Infância não podia mais parar, uma grande quantidade de pessoas pobres do local dependia de qualquer forma desse estabelecimento. O número de criança crescia sempre mais, os idosos que lá iam aliviar a sua fome eram muitos, com isso aumentavam também as despesas. Para sustentar tudo aquilo Irmã Giovanna e seus auxiliares aumentaram suas atividades em busca de recursos. Ela passou a viajar com frequência para Porto Velho, Manaus, São Paulo e até para Itália. Sem dinheiro muitas vezes viajou de carona em automóveis, ônibus e até caminhões, como aconteceu algumas vezes nos caminhões dos correios, mesmo com pessoas desconhecidas. Afinal quem trabalha pela causa de Deus não tem nada a temer.
No início das aulas o jardim tinha uma diretora, três professoras, uma zeladora e uma merendeira. Três mães diariamente ofereciam ajuda na limpeza e na assistência às crianças. Um pai oferecia seus serviços nos afazeres diversos. A promessa de Irmã Giovanna se tornara realidade, agora não existiam mais motivos para dúvidas, se é que existiram, e logo os órgãos públicos e prontificaram a ajudar.
A Campanha Nacional de Alimentação Escolar passou a fornecer a merenda escolar para a s crianças matriculadas, a Secretaria de Educação e Cultura do Estado aceitou contratar as três professoras, a Prefeitura Municipal se propôs a pagar uma merendeira, uma zeladora, a água e a luz, o Lions Clube de Humaitá ofertara de uma única vez C$25.000,00.
No dia 10 de agosto de 1978 o Jardim de Infância São Francisco assinou com a fundação Legião Brasileira de Assistência (LBA) o primeiro convênio de cooperação técnica e financeira no valor de C$ 85.000,00 a ser aplicado C$ 59.500,00 em materiais de consumo e C$ 25.500,00 em materiais permanentes.
Neste ano Irmã Giovanna comprou com a ajuda da Prelazia outra área ao lado do jardim, medindo 25x60 metros, destinada a aumentar suas instalações dentro de um projeto elaborado no valor de C$ 240.000,00.


3ª PARTE – O JARDIM DE INFÂNCIA NOS ANOS SEGINTES

A cada ano Irmã Giovanna foi ampliando mais a sua obra, a fim de proporcionar melhor condição de atendimento às pessoas do Bairro de São Francisco.
Nos anos de 1980 e 1984 o jardim passou a matricular alunos até a quarta série do curso primário, que precisavam estudar e não faziam isso devido à falta de escolas no bairro. Já em 1985 voltou novamente a matricular as crianças na faixa de 3 a 5 anos, conforme sempre foi seu objetivo.
Num terreno ao lado da capela foi construído um casarão onde passou a funcionar uma escola de marcenaria, ensinando aos meninos a arte de marceneiro, o que possibilitou a muitos deles um certo ganho financeiro.
Foram construídos ainda uma quadra de esportes e um parque de diversões infantis.
Em 1980 o jardim funcionava com 325 alunos matriculados, chegando em 1986 a ter 1500.
Em 1986 o prédio foi ampliado, chegando ao custo da ampliação em C$ 800.000,00 dos quais C$ 100.000,00 foram conseguidos junto à SUFRAMA, e o restante, Irmã Giovanna conseguiu de outras fontes.
Ao lado de Irmã Giovanna todos esses anos estiveram como diretoras do jardim as senhoras: Lúcia Guimarães, Maria Helena Ferreira da Silva e Francisca da Silva Guimarães. Todas estas professoras lutaram com bravura ao lado da irmã Giovanna em prol do Jardim de Infância São Francisco, e todas elas são testemunhas do grande trabalho e do grande sacrifício enfrentado por Irmã Giovanna para edificar e manter o empreendimento que vem beneficiando a muitas pessoas.

A NOVA IGREJA DE SÃO FRANCISCO

Desde o início da obra no bairro de São Francisco, Irmã Giovanna se preocupou em construir uma igreja grande e confortável, onde seus amiguinhos pudessem rezar bem agasalhados e onde Jesus Sacramentado fosse venerado dignamente.
Obedecendo a sua orientação, o desenhista Álvaro Pereira fez a planta. A nova igreja fora planejada levando em consideração o clima quente da região, por isso o novo templo é bem ventilado e acolhedor, tendo na frente uma linda praça.
O no templo tem em cada tijolo, guardado e escondido, assim como escondido está no coração de Irmã Giovanna, a marca de tantos sacrifícios com amor e por amor.
Pronta, a nova igreja foi consagrada solenemente no dia 4 de outubro de 1982. No dia 8 de março de 1987 foi entregue aos cuidados dos Freis Capuchinhos que são os atuais encarregados da paróquia de São Francisco criada no dia 25 de março de 1987.

O POSTO DE SAÚDE

A preocupação de irmã Giovanna pelo seu povo era tantos quanta a sua preocupação pela educação, nutrição e desenvolvimento espiritual de suas crianças, e neste particular ela se empenhara desde quando começou duas atividades junto àquela comunidade. Nesta parte ela sempre teve a ajuda dos estudantes universitários do Projeto Rondon, como também do Dr. Marcondes, médico da FSESP, mas para isso era necessário um lugar adequado e ela não tinha meios financeiros para construir.
Com a morte de sua mãe na Itália, os seus irmãos decidiram transferir para ela a herança que lhes coube.
Com esse dinheiro ela pôde realizar o que há muito tempo idealizava. Reconstruiu e equipou o prédio que antes fora uma escola de marcenaria, transformando-a num posto de saúde. Lá funcionava o atendimento médico e odontológico sob a direção da reverenda Irmã Maria Bernardes.

1987- O ADEUS E AS DIFICULDADES

Quem trabalha por amor de Deus não pode se apegar demasiadamente a determinadas pessoas, lugar e coisas. Foi isso certamente, foi isso certamente que fez ir embora a nossa bondosa Irmã Giovanna. Ela, provavelmente já tinha por esta terra e por este povo um grande amor.
O seu sonhado jardim de infância já florira o suficiente para encher de saudável fragrância o nosso ambiente. A sua missão aqui estava cumprida, bastando apenas que alguém continue a levar adiante. E ela foi embora.... Foi dá continuidade ao seu sonho, sonho de toda a sua vida, trabalhar em lugares pobres com pessoas pobres e humildes. Aos seus aqui, ela já conseguiu pelo menos em parte, a sua libertação, outros mais necessitados esperavam por ela.
Tão logo partira, disse-me Irmã Maria Bernardes e Dona Francisca que era diretora do jardim. As coisas mudaram bastante, as dificuldades se alastraram de imediato. Os não apareceram mais, nem mesmo para terminar os serviços contratados e que Irmã Giovanna já deixara pago. Faltou alimentação, diversos materiais, faltou dinheiro para pagar as despesas e até o mais importante, a união entre as pessoas que trabalhavam no jardim e nas suas diversas dependências. Dona Francisca lamentava muito a falta de Irmã Giovanna. Irmã Maria Bernardes dizia que não era hora de Irmã Giovanna ter ido embora, ela devia ter deixado amadurecer mais o seu empreendimento.

Acrescentado disse ainda Dona Francisca: muitos pais reconhecem as nossas dificuldades e já se dispuseram a contribuir com uma taxa mensal para ajudar nas despesas, não sei se os outros vão aceitar isso. Eles estavam acostumados a receber tudo das mãos caridosas de Irmã Giovanna...

Algumas Imagens...






















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